T E S T E M U N H O

 

  1. Como aconteceu a sua entrada nos Maristas.

 

Aconteceu, providencialmente. Como já estava a dar os primeiros passos no discernimento da sua futura vocação de Marista, o meu irmão, 5 anos mais idoso do que eu, presumia que um dia seria como ele. O meu pai perguntou-me se eu não queria seguir o caminho dele; após ter pensado muito pouco, e como ele já se estava a preparar para ir para o Brasil, com um certo espírito de aventura, disse-lhe que sim. Poucos meses antes, após a profissão de fé, o Sr. Prior perguntou-me algumas vezes e até com certa insistência, se eu não queria ir para o Seminário patriarcal de Santarém. Disse-lhe que não porque já tinha um irmão que já estava no Brasil e que eu gostaria de ser, um dia, como ele.

 

  1. Como foi o seu recrutamento e adaptação ao projecto de ensino proposto.

 

O convite que me foi proposto pelo Irmão Promotor Vocacional (antigamente chamava-se Recrutador), foi o mesmo feito ao meu irmão, já em terras de Santa Cruz (Brasil).

Inicialmente, a adaptação ao projecto de ensino proposto, estava ainda com bastantes reticências, por desconhecer ainda muito do que seria um futuro irmão marista dedicado plenamente à obra educativa, particularmente nos nossos centros. Entretanto com o andar dos anos, estudo, formação, bons conselhos e força de vontade, foi-se consolidando o objectivo que havia sonhado e almejado na mocidade: ser Irmão Marista Educador da Juventude.

 

  1. Dificuldades que encontrou.

 

As dificuldades iniciais foram, sobretudo, na adolescência, o estar longe da família: primeiramente na Espanha (Tui) e depois no Brasil Norte, Recife (Pernambuco) e Maceió (Alagoas). As saudades dos pais, irmãos, parentes e amigos, foram muito acentuadas, particularmente no Brasil, onde fiquei quase 16 anos sem ver a família. A adaptação ao sotaque brasileiro foi algo que me custou no início, por causa da chacota que faziam os meus colegas brasileiros. Depois, já nos primeiros anos de docência no Colégio ainda no Brasil, o ter que lidar com adolescentes um pouco turbulentos, foi algo que quase me faziam desanimar de ser marista. Mas, graças a Deus, a Nª Srª da Fátima e também aos bons conselhos do meu irmão, marista, e dos meus superiores e mestres com mais experiência na carreira docente do que eu, tudo foi superado. Diria hoje que foram pequenos acidentes de percurso, muito compreensíveis nesta idade de início de carreira.

 

  1. Aspectos mais marcantes no seu percurso com os Maristas em Portugal.

 

Foram vários. Saliento principalmente a abertura e amizade dos meus mestres e superiores. Os cursos de reciclagem pedagógica e religiosa marista que me foram proporcionados ao longo dos 50 anos vividos em terras lusitanas. Os dezassete anos vividos no aspirantado marista de Leiria (Colégio Marista de Leiria), às margens da ribeira do Sirol (Pousos). Os dois anos de docência de língua francesa no seminário menor diocesano de Leiria. Os quase 12 anos dedicados a tempo inteiro à Pastoral Vocacional e também os doze que vivi em Lisboa, 3 no Externato Marista e 14 na ex-casa provincial (Benfica) com uma notável acção de Pastoral Litúrgica exercida nos fins de semana em três paróquias: Nª Srª do Amparo (Benfica), Nª Srª do Carmo (Alto do Lumiar) e Sagrada Família do Calhariz de Benfica. A leccionação de Francês e Português no ensino oficial, durante 9 anos, da qual conservo ainda hoje muitas e saudosas lembranças Acrescento ainda a viagem ao Brasil, na 1ª semana de Outubro de 2002, por motivo da celebração dos 100 anos de presença marista no Brasil Norte; foram apenas, infelizmente, algumas semanas de contacto com a realidade marista em 5 centros educativos maristas, que me cumularam de imensa alegria e de gratas recordações.

 

  1. História(s) mais marcante(s).

 

Histórias marcantes ou algo significativas, não me ocorrem no momento, além das que de certo modo já estariam relacionadas com as actividades que exerci e que se encontram, de certo modo referidas ou implícitas no apartado anterior. Entretanto, saliento uma hilariante história que me aconteceu nas minhas andanças na Pastoral Vocacional, por este Portugal desconhecido de muitos bons portugueses. Aconteceu na Beira Baixa. Não refiro o nome da escola ou localidade a que se relaciona. Acabava de sair de uma Escola primária. Dirigi-me para o carro ( um volkswagen azul escuro) que estava ao meu uso nesta actividade pastoral. Abro a porta e fecho-a; a janela estava com o vidro do meu lado levantado. Nisto, aparece um indivíduo que aparentava possuir uma cultura um pouco abaixo da média da população da localidade e pede-me com insistência que baixe o vidro da janela; obedeci ao bom aldeão; ele afirmou, categoricamente: “ O senhor ou é doutor ou sabe letras!” Está bem, respondi eu, e disse-lhe adeus, não fosse ele fazer alguma das dele pela qual não esperaria. E abalei desta terra com nenhuma vontade de lá voltar, com receio de que outra vez me fosse encontrar com semelhante ou pior intruso na minha vida.

Irmão Albertino José JORGE